|   Devia 
                    fazer parte da educação geral de todos os cidadãos 
                    a descida a uma mina durante todo um turno de trabalho e uma 
                    noite numa traineira de pesca em alto mar. Na segunda, desde 
                    que o mar esteja calmo, quase parece um cruzeiro, embora a 
                    faina seja muito dura, mas respira-se ar puro. Descer a uma 
                    mina é uma experiência única. O primeiro 
                    dos sentidos a apurar é o olfacto, em proporção 
                    directa da perda de visão. As minas cheiram a sangue 
                    mineral, como se de um ser vivo se tratasse a ser dilacerado 
                    nas suas entranhas. Mistura-se este cheiro com o das máquinas, 
                    dos óleos e dos combustíveis num cocktail aprisionado 
                    em temperatura elevada com altos graus de humidade. Sim, as 
                    minas estão sempre completamente molhadas e por vezes 
                    alagadas. Depois o barulho, ensurdecedor nos locais de trabalho 
                    e na passagem dos transportes e que desaparece, como por magia, 
                    ao virar dois corredores ou ao descer um nível. Por 
                    vezes um silêncio ensurdecedor. Abismal. Depois o tacto. 
                    Sim o tacto da rocha e do minério acabados de cortar. 
                    Maravilhosamente agradáveis ao tacto, quase que sedutores, 
                    com os seus brilhos e reflexos, com um encantamento especial, 
                    desafiando o mineiro, entregando-se, mas anunciando o pagamento 
                    de volta.  | 
                 
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