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Outubro 2006 Um dia desta semana parei no semáforo junto aos correios centrais de Setúbal e observei. Num banco, sentado, um homem de aspecto andrajoso e um cão dormitando. O homem estava sujo, muito sujo, cabelo e barbas enormes e sebosos, cabeça baixa, tossia e cuspia. Um farrapo que abandonou a sociedade e que a sociedade abandona. Aquele homem não pertence a nenhuma das nossas tribos, fugiu, fui expulso, libertou-se. É incrível a eternidade que um semáforo leva a mudar de cor. Olhei bem e pensei que aquele posso ser eu, caso o destino se enrole. Ele certamente também teve sonhos belos e camisas lavadas todos os dias. A certa altura colocou a mão sobre o amigo canino que o acompanhava e este de um salto lambeu-o e fez-lhe imensas festas. Vi a alegria de ter um amigo. Um amigo com pedigree, ao qual, a sujidade, a doença e a solidão, não afastam. O sinal verde chegou. Avancei e olhei para trás. Triste, muito triste mesmo, mas algo reconfortado por reconhecer que há sempre uma esperança. É apenas uma questão de pedigree. Comentários
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