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Maio 2006 Com excepção
das marretas, os restantes números são reais. Esta foi
a brilhante operação policial desta semana no bairro junto
ao Aeroporto da Portela. Um retumbante fracasso. Ou porque haviam lá
centenas ou milhares da armas que foram retiradas da véspera
por alguém que passou a informação ou então
não havia lá mesmo nada de especial. As portas (diferentes
das de quem vive num apartamento) ficaram desfeitas, o mobiliário
(diferente de quem vive num apartamento é certo, mas mobiliário)
ficou desfeito, os filhos (também, aparentemente, diferentes
dos filhos de quem vive num apartamento) acordaram e ficaram em pânico,
as pessoas que lá vivem (algumas até me pareceram um pouco
diferentes de quem vive num apartamento) ficaram desesperadas. Pois
é, mas passadas sete horas os homens sem rosto partiram nos seus
vagons azuis, levando as marretas e deixando a angústia de ser
pobre, de ser imigrante, de ser minoritário. Claro que esta operação
foi para "nosso" bem, para "nossa" segurança.
A esta hora algumas das portas estão talvez já arranjadas.
Nas almas e nas emoções não se podem colocar dobradiças
novas. E tenho a certeza, que um dia as marretas irão chegar
à minha porta, ao meu quarto, às minhas cartas, aos meus
emails. Eu, que vivo num apartamento. E claro que será para "nosso"
bem, para "nossa" segurança. E quem sabe eu até
vou acreditar nisso. É claro que nessa altura já amarei
o Grande Irmão. Comentários |
